Como surgiram os parklets no Brasil?
Parklets são pequenas áreas de lazer e convívio em espaços originalmente destinados ao estacionamento de carros. Pioneiramente implantados em São Francisco (EUA), representam uma grande oportunidade de promoção de espaços públicos qualificados, escassos na cidade de São Paulo.
Em 2013, um grupo formado pelo Zoom, H2C, Superlimão, Design Ok e Instituto Mobilidade Verde implementou os primeiros parklets de São Paulo. A ideia era criar um canal de diálogo com a sociedade, a fim de debater questões ligadas à ocupação dos espaços públicos pelas pessoas, buscando transformar a cidade em um lugar melhor para a convivência de todos. A prevalência do automóvel, a velocidade, a poluição sonora e atmosférica fazem a rua virar um “não lugar”, cuja função seria reduzida ao tráfego motorizado. Neste sentido, o parklet é uma intervenção urbana que discute o espaço público e promove seu uso de forma democrática, oferecendo a quem transita um espaço de descanso e de convivência.
O pedestre tem seu espaço reduzido e pouco convidativo. Em muitos casos, as calçadas são estreitas e não possuem um desenho de qualidade, sendo utilizada somente para passagem rápida. Isso se reflete também nos mobiliários, que muitas vezes impossibilitam a interação social e pontos de descanso ou contemplação pela cidade. Inspirados em ações que ocorreram em São Francisco, como o Park-ing Day, e a Vaga Viva, no Brasil, como ocupações temporárias de vagas de carro, o grupo escolheu o parklet começar o diálogo com a população: trata-se de uma intervenção urbana de caráter temporário que propõe o uso do espaço público destinado às pessoas ao retirar duas vagas de carro da rua e criar um espaço de convivência de mais qualidade para as pessoas, com bancos e floreiras.
Em São Paulo, essa implantação se deu por etapas. A primeira etapa funcionou como uma divulgação da ideia, para que a população fosse apresentada ao conceito de parklet. Em agosto de 2013 foram implantados dois parklets na cidade - na época chamados de "zonas verdes" - por quatro dias durante o festival urbano Design Weekend. O principal objetivo desta etapa foi a divulgação do projeto. Com monitores durante a ação foi possível esclarecer a intervenção à população e medir os resultados.
Imagem da "zona verde" - o primeiro parklet temporário de São Paulo, na Rua Maria Antônia. Foto: Ricardo Lisboa
A segunda etapa funcionou como um teste. Em outubro de 2013, durante a Bienal de Arquitetura de SP, um parklet foi implementado por um mês. Através de pesquisas e diálogos com a população, foram levantadas informações suficientes para orientar novas políticas públicas que favorecem a criação de espaços e infraestrutura permanentes para os pedestres e ciclistas na cidade. Ao fim da ação a população organizou um abaixo assinado para permanência do parklet no local.
O segundo parklet temporário de São Paulo funcionou por um mês durante a X Bienal de Arquitetura. Foto: Sissy Eiko
O primeiro parklet oficial da cidade, o da Rua Padre João Manuel, implantado simultaneamente à aprovação do decreto marca a terceira fase, que seria a regulamentação dos parklets. Foi realizado por alguns integrantes do então grupo DesignOk - Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, H2C Arquitetura e SuperLimão Studio - juntamente com a Contain[It] e Instituto Mobilidade Verde. Este projeto já evoluiu em técnicas construtivas modulares mais eficientes na montagem, na adaptação ao perfil irregular das ruas de São Paulo, na durabilidade e na drenagem. Os módulos possuíam diferentes tipologias de mobiliários e permitiam diversas combinações.
O primeiro parklet oficial de São Paulo, na Rua Padre João Manuel, funciona até os dias atuais. Foto: SECOM/SP
A aceitação e satisfação da população em relação aos Parklets impulsionou a publicação de um decreto pela Prefeitura da Cidade de São Paulo, transformando os Parklets em política pública. O decreto nº 55.045 de abril de 2014 permite que qualquer cidadão, empresa ou instituição viabilize um parklet em SP. O grupo envolvido nas implantações piloto colaborou na elaboração do decreto e também no desenvolvimento de um manual que auxilia as pessoas a construir seus próprios Parklets. O decreto e o manual definem os parâmetros mínimos e orientam as boas práticas para implantação do parklet. A aprovação é um processo simples com intuito de expandir rapidamente a iniciativa.
Por último, outra fase dos parklet seria a atual, na qual os parklets já se encontram consolidados como política pública, incorporados ao dia-a-dia das pessoas e, por fim, multiplicados pela cidade. Essa multiplicação se dá não só no número de parklets como também nos formatos, com variedade crescente na exploração das formas e das soluções de desenho. Além disso, a propagação não se limita apenas à cidade de São Paulo, ocorrendo a expansão da iniciativa com a regulamentação em outras cidades do Brasil como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, etc.
Os parklets se espalham pelo Brasil. Na foto acima, um parklet em Jundiaí.
O parklet transforma o espaço destinado para dois carros em uma área de lazer e convívio para pessoas, propiciando o debate com equidade e trazer maior convivência para as ruas, tornando-a mais aconchegante aos seus usuários. No parklet, ciclistas são beneficiados com a instalação de paraciclos e a caminhada é incentivada ao invés do deslocamento motorizado, além de estimular a participação da comunidade local na conquista, construção e manutenção do espaço.